terça-feira, 11 de junho de 2013

Rebeldia sim, mas com causa!

A Imprensa tem feito muito alarde com a presença do jogador Mário Balotelli, da seleção da Itália, querendo mostrar que além de um bom jogador, seu comportamento rebelde, individualista, ou seja, aspectos incomum dentre a maioria dos atletas, revelam um cidadão politizado  inconformado com muitas cisas em seu país e no mundo. Mas parece que a realidade de Balotelli é bem outra.
Quem acompanha a história do futebol brasileiro, principalmentedos anos 70 para nossos dias, sabe que tivemos grandes atletas, que além de bons de bola foram ícones nos movimentos políticos, democráticos e libertários.
Quem não conhece a história de Afonsinho, um jogador que na época era estudante de Medicina e que revolucionou nas equipes por onde passou, sendo um dos primeiros atletas brasileiros -e até mundiais- a lutar pelo Passe Livre.
A rebeldia de Afonsinho começou quando o atleta resolveu questionar o Botafogo, clube que defendia, atrasou pagamentos de salários e de prêmios. Afonsinho reuniu com os colegas de clube e levou o caso à Justiça, ganhando a causa e passando a ser considerado "rebelde" ou pior", "subversivo" por alguns dirigentes e até cronistas conservadores.
Afonsinho ficou marcado mas foi em frente e foi quem primeiro brigou também com a diretoria do mesmo Botafogo por ser impedido de jogar com a barba e o cabelo grandes, que os militares que governavam o Brasil na época chamavam "de símbolo da subversão". Foi novamente à Justiça e conseguiu vencer. Afonsinho, que além do Botafogo defendeu Flamengo, Fluminense e Santos, foi o principal responsável pela Lei do Passe Livre para atletas profissionais, e hoje, aos 65 anos,  médico aposentado, afirma que na época era vigiado pelos militares e garante que até hoje a ditadura ainda existe no futebol.
Afonsinho e Sócrates, ambos bem barbudos
Balotelli: rebeldia ou muita arrogância?
A famosa democracia corintiana é outro exemplo de que para se lutar em qualquer campo é necessário ter, antes de mais nada, consciência política. Vladimir, Casagrande e o Dr. Sócrates foram os principais artificies da democracia que fez do Timão o primeiro clube a permitir que atletas negociassem local e tempo de concentração, participassem de decisões de pagamento de "bichos" e outras decisões internas. Casagrande e Vladimir, que até hoje são muito amigos, garantem que o que queriam na verdade era mostrar ao povo brasileiro que o Clube não poderia cometer os mesmos erros de cercear a liberdade das pessoas como o país fazia.
Rebeldia não pode sempre ser confundida com politização. Tivemos muitos jogadores rebeldes, mas na maioria era uma rebeldia sem causa nenhuma, como Edmundo, Romário e até mesmo Maradona, na Argentina. 
A rebeldia tem que ter sempre uma ou muitas causas. Causas que sejam válidas para marcar que o jogador não é um oportunista ou um vaidoso qualquer, mas um cidadão que tem influência e a usa como força política para mudar alguma coisa.
Balotelli, que tem apenas 22 anos, ´pode até ser um rebelde. Mas antes de fazer as tolices de peitar árbitros, dar porradas em colegas e quebrar ambientes em que se encontra, tem primeiro que procurar ser um cidadão politizado, que luta e reivindica, por exemplo, por melhores dias para os jogadores negros, principalmente os que atuam na Europa, que são discriminados, sempre recebendo insultos racistas até com bananas que são atiradas  nos campos de futebol.
A rebeldia exposta na raiva, na ira pode até ser fruto do questionamento com coisas que enxergamos equivocadas.Mas ela acrescentada da arrogância e da violência pode ser também fruto da frustração e até  do próprio preconceito que muitas vezes muitos carregam dentro de si e não querem assumir.

2 comentários:

  1. Pouca gente sabe, mas Balotelli doa quase a metade de seu salário para instituições africanas de apoio a crianças.
    Pouca gente sabe que, muito jovem, foi entregue para adoção devido sua saúde debilitada e devido seus pais não terem recursos para criá-lo.
    Talvez seu comportamento explosivo seja reflexo de sua infância turbulenta. Mas o fato de doar quase metade do que ganha (que não é pouco) é um ato louvável que ninguém fala.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Acho justo e bonito. Mas isso é pouco para a força política que tem e não lhe dá direito de ser explosivo com tudo e com todos como demonstra ser.

      Excluir