quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Venezuela repetiu Brasil

O jornalista Jânio de Freitas, em muito bem elaborado artigo, trata do assunto que virou a crítica da moda na Grande Imprensa brasileira, que foi o adiamento da posse de Hugo Chávez na Venezuela. Freitas mostra que o fato aconteceu no Brasil, na década de 80, quando Tancredo Neves, como Chávez também doente, foi empossado, tendo logo depois falecido e em seu lugar assumiu o vice, José Sarney. O detalhe é que  toda a Imprensa brasileira na época louvou a posse de Tancredo, ao contrário do que acontece hoje, quando com arroubos moralistas critica o acontecido na Venezuela, inclusive acusando de golpe. O Blog transcreveu o artigo do confrade Jânio de Freitas e pede aos seguidores e navegantes reflexão sobre possíveis mudanças de opinião.

À Brasileira
Por Janio de Freitas

A decisão, adotada na Venezuela, de adiar indefinidamente a posse do hospitalizado Hugo Chávez tem um precedente: é milimetricamente igual à decisão que adiou indefinidamente a posse do hospitalizado Tancredo Neves. O que faz com que a decisão no caso de Chávez receba exaltada condenação moral no Brasil e no caso de Tancredo Neves fosse louvada, com alívio e emoção, pode ser muito interessante. Mas não é para um artiguinho. E não é tão difícil de intuir, ao menos na superfície.
Convém lembrar que a crítica à solução brasileira só veio, e muito forte, no segundo passo daquele veloz processo. Foi quando a decisão à brasileira avançou muito mais do que a Venezuela: morto Tancredo, o mandato que não recebeu e a Presidência foram transferidos ao vice, sob muita contestação jurídica e ética.
As circunstâncias venezuelana e brasileira são diferentes? Sim, claro. As circunstâncias são sempre diferentes. Mas sem essa de que a oposição Venezuela está lutando pela democracia, e o chavismo é um sistema contrário à liberdade, e coisa e tal. Seja o que for o chavismo e o que pretenda a “revolução bolivariana”, o que a oposição quer é restaurar o sistema de poder anterior: um dos mais corruptos e socialmente opressores da América Latina, de menor e mais imoral “liberdade de imprensa” e de pensamento.
Ao longo do século passado, a Venezuela dos hoje saudosistas deixou exemplos de barbaridade ditatorial escandalosos mesmo para o padrão latino-americano, caso do ditador-bandido Perez Jimenez, entre outros; e uns dois governos decentes, digo dois só para não deixar o romancista e presidente Rômulo Bittencourt sem companhia em meio a cem anos.
Mas, a não ser muito eventuais obviedades “de esquerda”, nunca li ou ouvi críticas no Brasil aos donos daquela Venezuela e seu sistema de domínio e exploração.
O que se passa na Venezuela não é uma divergência entre as condições jurídicas e temporais de uma posse, incerta além do mais, na Presidência. Posse de um eleito, também é bom lembrar, em eleições de lisura aprovada por comissões internacionais de fiscalização, entre as quais a respeitadíssima Fundação Carter, com a presença destemida do democrata Jimmy Carter.
A conduta do Itamaraty diante do problema venezuelano, na qual expressa a posição oficial Brasil, mais uma vez se orienta pelo princípio de que se trata de assunto interno do país vizinho, sem justificativa para qualquer interferência externa a ele.
Marco Aurélio Garcia foi mandado, como assessor presidencial de assuntos internacionais, recolher em dois dias as informações, necessárias ao governo brasileiro, sobre o estado de Chávez e sobre a situação política venezuelana. Não houve indicação alguma de que seu comentário representasse uma posição assumida pelo governo brasileiro.
Para Marco Aurélio Garcia, conforme exposto na Folha pela repórter Fernanda Odilla, “como o presidente foi reeleito, ‘não há um processo de descontinuidade’ se ele não tomar posse formalmente” hoje. Há, sim. Não há descontinuidade pessoal. Mas há descontinuidade institucional.
Uma posse presidencial não importa pelo empossado, que pode ser ótimo ou lamentável. A importância é institucional: o início de um mandato na Presidência. E segundo mandato é outro mandato. Como constatado no editorial da Folha “Impasse na Venezuela”, de ontem, “o texto constitucional [venezuelano] não responde de maneira inequívoca às dúvidas suscitadas” sobre o impedimento atual da posse em novo mandato.
Mas, em se tratando de Chávez, é válido dizer que “adiar indefinidamente” é inconstitucional, é arbitrariedade, é opressão. “Brasileiro não tem memória.” Ou, se lhe convém, adia indefinidamente.

P.S.: Na verdade, os que criticam o que foi feito na Venezuela, querem que o país volte a ser o que era antes de Hugo Chávez: um quintal dos americanos, onde a miséria de milhões se confrontava com a riqueza de poucos. Muitos anos de vida para Hugo Chávez! (M.M.).

4 comentários:

  1. ditadura comunista é isso... F.. a democracia verdadeira

    coitado é do cancer. o que será que o cancer fez no passado para merecer o hugo chavez????

    ResponderExcluir
  2. Esse chavez ta vivendo de teimoso. No andar de baixo esperam por ele: bin laden, sadan husein, che guevara (que era viado), kadaf, ou seja, so gente boa! Deixa a Venezuela chavez deixa seu povo Aer. Feliz e nao oprimido como acontece desde sua gestão!

    ResponderExcluir
  3. É diferente o que aconteceu com Tancredo e o que acontece na Venezuela. No caso do Tancredo acabou um mandado do seu antecessor (que lógico nao era ele) e ele assumiria. Como ele ficou impedido assumiu o próximo na linha sucessória seu você Sarney. No caso da Venezuela acabou seu mandato "antigo" e ele deveria assumir mas como ele esta com um pé na sepultura tratou de mandar, impor e o intimidar seus prepostos em Caracas para "segurar" sua vaga. Portanto Quem acha que é a mesma coisa é pura ignorância coisa tipos do povinho da esquerda.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Os comentários dos anônimos, todos de tendência fascista e visivelmente discriminatórios, mostram na verdade quem é ignorante. O Tancredo -que era um representante da direita, por isso quiseram que ele assumisse, morresse e desse a vaga a outro direitista, o Sarney- foi louvado pela Imprensa na época, a mesma imprensa reacionária que hoje critica o Chávez.
      Outra: para falar o nome do grande líder revolucionário Ernesto Che Guevara, o anônimo deveria, com todo respeito, conhecer melhor a história moderna. Che, que o anônimo diz que era homossexual (nunca soube disso e já li três biografias dele, mas se fosse não tiraria seu mérito de grande homem, grande líder, grande ser humano), foi um camarada latino, que mesmo sendo médico e tendo berço, teve coragem de peitar os exploradores americanos, que o assassinaram covardemente na Bolívia. Viva Che!

      Excluir