quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Três mil vetos e uma grande omissão

O jornalista político Alberto Dines, escriba do site "Observatório da Imprensa", publicou excelente artigo em que trata da descoberta, semana passada, dos mais de três mil vetos que há pelo menos 18 anos dormitam e que já deveriam ter sido examinados pelo Congresso. Segundo Dines, o verdadeiro "atentado ao Estado de Direito" que são esses vetos não examinados, nunca sequer foram denunciados pela Imprensa, nem pelos repórteres que cobrem o Congresso, o que mostra que os editores dos grandes veículos de comunicação só são interessados em manchetes sensacionalistas, ou, como bem escreveu o conceituado jornalista, "espetaculosas". 

Alberto Dines
(Do Observatório da Imprensa)

Quando há duas semanas descobriu-se que havia mais de três mil vetos presidenciais na fila para serem examinados pelo Congresso – alguns datados de 1994! – flagrou-se a natureza e dimensões do leviatã burocrático nacional.
A surpresa foi geral, mas a reação do responsável por este formidável atentado ao Estado de Direito foi kafkiana.
Para permitir a urgência na apreciação do veto de Dilma Rousseff à distribuição dos royalties do petróleo, o chefe de Legislativo, o inventivo e sempiterno José Sarney, determinou que os vetos fossem examinados simultaneamente: mandou imprimir um catatau de quase 500 páginas para ser distribuído a cada um dos deputados e senadores onde seriam anotados os respectivos votos, item por item, e depois depositados em “urnas” de madeira, verdadeiras caçambas que os funcionários carregariam nos ombros.
A farsa merecia ser incluída numa novela em quadrinhos sobre a República dos Equívocos. Não deu tempo: os chargistas estão assoberbados, nossos melhores satiristas já se foram, outros estão de licença médica e o recesso natalino não pode ser atrasado. Fica para a próxima.
Escancarou-se simultaneamente a incapacidade da nossa mídia em exercer a sua função fiscalizadora.
Aquele que foi chamado de Quarto Poder e hoje se comporta como se fosse o undécimo, não conseguiu enxergar a gigantesca ilegalidade que está sendo praticada consecutivamente há 18 anos. Nem se esforçou.
Três mil vetos presidenciais pendurados, sem solução, constituem uma aberração institucional que não pode ser varrida para debaixo do tapete.
Se nossos repórteres políticos já não cobrem o Congresso, por que continuam ser credenciados para esta missão?
É óbvio que há em Brasília profissionais conscientes, ansiosos para exercer a vigilância sobre um poder que no passado foi o principal aliado da imprensa na denúncia de abusos. Os porteiros das redações é que desistiram do jornalismo de formiguinha, teimoso, tinhoso, anônimo e eficaz.
Os editores querem aparecer, brilhar, produzir manchetes espetaculosas, de preferência sopradas ou vazadas pelas autoridades ou arapongas.
Não têm tempo nem ânimo para estimular as novas gerações de repórteres a meter a mão na papelada, devassar os “atos secretos” e driblar os arrogantes assessores de imprensa a serviço do mau jornalismo.
Não se cobrem as sessões, não se cobra assiduidade dos representantes do povo, não se examinam os relatórios produzidos pela descomunal burocracia a serviço das duas casas do Parlamento.
Os três mil vetos em suspenso são os ícones de um Legislativo inepto e viciado. São também um atestado de uma imprensa desnorteada, desfibrada, alheia ao seu compromisso de servir a sociedade e a democracia.

5 comentários:

  1. Parece que por aqui também ocorre coisa parecida. Quando abrimos as páginas dos jornais locais, as notícias políticas parecem com as notícias de Remo e Paysandu, o confronto de dois poderes feudais, de um lado um grupo forte de comunicação, do outro um grupo forte na política estadual. Como nos bastidores da política, as notícias do esporte local parecem muito com esse jogo de interesse, mais ou menos da mesma forma. Quem dá mais retorno é mais divulgado, quem não dá retorno ou não paga fica de fora, e que se dane o leitor.
    Por que não levar a n otícia como ela é, sem mascarar ou tendenciar?

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  2. "Não à nova lei de divisão dos royalties! Basta de migalha! Toda a riqueza gerada pelo petróleo para o povo brasileiro!"

    Cyro Garcia e Gleidson Rocha, do Rio de Janeiro (RJ)

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    1. O caro anônimo tem toda razão. A chamada Grande Imprensa só tem olhos para Remo e Paysandu. Piora ainda quando a nossa Tuna não consegue formar um time bom. Aí é que as notícias escasseiam.
      "Toda riqueza nacional tem que ser nacional: dividida entre os estados". Dessa eu não abro!

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    2. O caro anônimo tem toda razão. A chamada Grande Imprensa só tem olhos para Remo e Paysandu. Piora ainda quando a nossa Tuna não consegue formar um time bom. Aí é que as notícias escasseiam.
      "Toda riqueza nacional tem que ser nacional: dividida entre os estados". Dessa eu não abro!

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  3. E as jazidas de minério do Pará, será que os royalties dessa riqueza fica apenas no Pará? Com a palavra a Lei Kandir!

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