terça-feira, 29 de maio de 2012

Sobre atletas, "olheiros" e "empresários"

Perder jogadores das categorias de base ou logo após o estouro da idade, na fase de 18, 19 e 20 anos, é o fato mais natural em nosso futebol. Quem é ou quem são os culpados? Ai é que está. São dois pesos e duas medidas: pode ser o presidente relapso, o diretor de futebol mancomunado, o técnico ou simplesmente um elemento que não se dá nada por ele, mas que está no campo de futebol a trabalho: o "olheiro".
Em nossa gestão na presidência da Tuna Luso Brasileira, vivenciamos muito esse tipo de problema. A Tuna estava com uma boa safra de jogadores oriundos da base, onde os maiores destaques eram Paulo de Tárcio (hoje no Cametá), Paulinho (Remo), Preto Barcarena (Bélgica  e outros clubes), Japonez, Dudu, que já passaram por vários clubes de outros estados; Hálace, Zé Augusto, além de alguns mais novos, que ainda eram promessas.
Diariamente eram muitos os empresários, pseudos-empresários e "olheiros" que se amontoavam nas arquibancadas do estádio do Souza esperando os finais de treinos, quando abordavam os jogadores  e faziam promessas mirabolantes aos jovens atletas, boa parte deles oriundo de famílias bem humildes.
Certa feita, um conhecido "empresário" me procurou para fazer uma reclamação que havia sido destratado por um técnico das categorias de base do clube. 
"Chamei um atleta para conversar e ele proibiu o rapaz de ir falar comigo e ainda disse que iria pedir a proibição da minha entrada na Tuna", reclamou o "empresário".
procurei o técnico e ele contou-me que esse "empresário" era um dos que mais assediavam atletas.
Baixei uma portaria proibindo o acesso de "olheiros" e empresários  dentro do campo. A princípio tudo foi legal, mas depois eles deram o jeito deles: um dos empresários soube, através do atleta, que a Tuna estava atrasada quase um mês de seu salário. Orientou ao jovem, de 17 anos e seu amigo, de 18, ambos meio campistas, a não receberem o salário durante três meses. Pedi ao técnico e ao mordomo que falasse aos dois que precisava conversar com eles. O empresário então, ordenou que eles simulassem contusão e se afastassem por um mês dos treinos da Tuna, período que não iam ao Clube e não receberiam dinheiro. Nessa patifaria toda, proporcionada pelo "empresário", chegou o documento da Justiça do Trabalho. Os dois atletas, além de solicitarem "atestado liberatório", queriam uma fortuna de indenização por salários atrasados.
Moral da história: orientado pelo advogado da Tuna, que era cruzmaltino, depositamos os salários dos dois atletas em juízo. Para evitar confusão maior, pois os dois não queriam mais jogar no clube, nosso advogado resolveu liberá-los, mas sem ônus nenhum de nossa parte, como queria o empresário-advogado. Os dois foram para São Paulo, seis meses depois voltaram, e até hoje perambulam por aí, pois saíram sem uma base completa e sem estrutura emocional para enfrentar um clube grande. O empresário também, de olho só no que poderia ganhar, não preparou os atletas psicológicamente. E o resultado deu no que deu.
Vejo que o melhor que qualquer diretoria pode fazer para segurar um atleta jovem, primeiro é fazer um contratinho bom, sem muito exagero na rescisão, mas valorizando  e respeitando o prata de casa. Depois é ter -além de técnicos de confiança na base- um supervisor de futebol de base, que não permita a entrada de estranhos que "façam a cabeça" dos jovens atletas, com promessas homéricas. Quando deixam o clube na marra, apenas uma pequena parcela deles dá certo, principalmente, quando seguem "o canto da sereia". Aí é que não  dá certo mesmo.
Mas mesmo assim, com segurança, muitos jogadores ainda são cooptados na calada da noite, como Magnum foi da Tuna para o Paysandu; Hálace foi para o Coríntians; Flamel não quis mais renovar e muitos outros.
Recentemente alguns jogadores saíram do Paysandu e não deram certo. Todos voltaram. É falta de orientação e de um bom trabalho no psicológico do atleta. Futebol não é só jogar bola propriamente dito. É preciso que o clube dê uma boa assistência, valorize, mas que tenha um boa fiscalização, se não o investimento vai por água abaixo. Ou por conta do clube ou de algum "empresário".

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