segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Lembranças de Drummond

Aprendi a gostar de Drummond  na faixa dos meus 16, 17 anos. O poeta de Itabira, que sonhava sempre com sua cidade de montanhas de ferro, me foi apresentado por um companheiro amante da poesia moderna, brasileira e portuguesa. Foi o mesmo período  em que tomei conhecimento da existência do também genial poeta  português Fernando Pessoa, que não sei porque guardo a imagem  contida num de seus livros como um fotografia em meu cérebro: ele sentado de pernas cruzadas em um Café em Lisboa.
Em homenagem à poesia, publico nesta manhã de segunda-feira um poema em forma de soneto de nosso mestre Carlos Drummond de Andrade:
                 
                                            OS PODERES INFERNAIS

O meu amor faísca na medula,
Drummond, de Itabira para o mundo.
pois que na superfície ele anoitece.
Abre na escuridão sua quermesse.
É todo fome, e eis que repele a gula.

Sua escama de fel nunca se anula
e seu rangido nada tem de prece.
Uma aranha invisível é que o tece.
O meu amor, paralisado, pula.

Pulula, ulula. Salve, lobo triste!
Quando eu secar, ele estará vivendo,
já não vive de mim, nele é que existe

o que sou, o que sobro, esmigalhado.
O meu amor é tudo que, morrendo
não morre todo, e fica no ar, parado.

(Carlos Drummond de Andrade)

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