terça-feira, 27 de outubro de 2009

O BELO ANTONIO

Os cinéfilos - mas cinéfilo mesmo - puxando um pouquinho da memória devem lembrar de um famoso filme com o genial artista italiano Marcelo Mastroiani. Como em outros filmes, Mastroiani interpretava um homem muito bonito chamado Antonio. Porém, apesar de amado por todas as mulheres, quando chegava a hora H, não funcionava. Perry Sales, recentemente falecido, tempos depois tentou o mesmo mote num filme brasileiro com sua mulher como protagonista. Casou, no filme, com Vera Fischer e, na hora h, aparecia algo que o bloqueava e o cara não tinha jeito. Nada para ninguém.
O filme ficou famoso não por ser uma grande história, mas pela não performance de Antonio. Daí, na época, virou moda chamar-se aquilo que era grande, imponente, ou muito bonito, de belo Antonio, porque apesar de todos os adjetivos positivos, não funcionava. É o caso hoje do nosso Mangueirão. Um dos mais belos estádios do Brasil, hoje, infelizmente não funciona. Nossos clubes, principalmente os três chamados maiores, estão parados há muitos meses, e, nos famosos caça-níqueis, eles dão seu jeito nos campinhos de várzea do interior ou nos seus próprios, horrivelmente maltratados.
Os dois principais, Remo e Paysandu, sofrem pelo velho hábito de contratar jogadores sem o menor critério, as vezes seguindo os impulsos de treinadores que têm os seus preferidos aqui, ali e as vezes em plagas bem inferiores. E os xerifões quando conseguem o aval de diretorias dispensam também sem o menor critério, desrespeitando as pratas da casa e os que já deram tudo de si, ou seja, roeram a pupunha com jabá de segunda, mas mesmo assim são dispensados, "porque agora a conversa é outra".
Como admirador do bom futebol e torcedor da Tuna, fico cá com meus botões a admirar velhos recortes de jornais onde fotos me transportam a antigas decisões onde os três, Tuna, Paysandu e Remo, desfilavam craques que tinham talento e realmente tinham amor à camisa. Era a época em que ninguem queria vender seus estádios, tampouco arrendar suas equipes de futebol. E o Mangueirão não era um belo Antonio. Porque funcionava.

Um comentário:

  1. Querido amigo Marcos!

    É verdadeiramente lamentável constatarmos a atual situação do futebol paraense. Os times enfraquecidos tecnicamente, os clubes financeiramente estrangulados, e como principal consequência o nosso futebol não consegue reconstruir a sua imagem pujante que tanto orgulhava os paraenses apaixonados torcedores do futebol.
    O torcedor paraense esperou décadas para ver concluído o Mangueirão, que por muito tempo foi jocosamente chamado de Bandolão, pois parecia que jamais o estádio seria terminado. Então, não faz muito tempo, finalmente o Mangueirão foi concluído e rebatizado, passando a ser chamado Estádio Olímpico do Pará. Nome pomposo, imponente, adequado a um novo, belo e grande estádio que desde então passou a ter condições de abrigar não somente partidas do esporte mais amado na Terra, mas também grandes eventos de atletismo.
    Contudo, o que vimos com o tempo foi que, cada vez mais, o futebol passou a ser desprestigiado para ser jogado no Mangueirão. Diversos fatores passaram a inviabilizar os jogos, mesmo quando se tratava de clássicos entre Paysandu e Remo, pois apesar da certeza de grandes públicos, fatores como os bloqueios de renda determinados pela Justiça do Trabalho, altíssimos custos do estádio, excessivo número de gratuidades e outros mais, acabaram por criar o contexto do "cachorro querendo morder o próprio rabo". Os clubes passaram a pagar para jogar...
    Abstraindo os outros aspectos e focando nos custos do estádio, a impressão que tenho é que, para os "organizadores dos campeonatos", tanto faz se os clubes estão levando grandes públicos, gerando belas arrecadações, e saindo de cofres vazios. O que interessa a eles é que, no próximo "clássico rei da Amazônia" o estádio estará lotado e um ótimo dinheiro entrará nos caixas da FPF, SEEL, etc. Os interesses dos maiores astros da competição, os clubes, são sumariamente desprezados e os clubes estão do jeito que estão, cada vez mais enfraquecidos e desmoralizados.
    O episódio da derrota de Belém para Manaus na disputa por sediar a Copa do Mundo de 2014 evidencia muito bem como o futebol paraense está abandonado, desprestigiado e sem representatividade. É inadmissível que Belém tenha perdido, mesmo tendo o Belo Antonio Mangueirão, quando Manaus nem estádio decente tem, pode-se assim dizer. Sim, é verdade que não somente o estádio conta para a definição da FIFA. Há outros fatores, alguns obscuros, que pesam muito dessa decisão; mas isso é uma outra história...
    O fato é que realmente o nosso Mangueirão se transformou num belo elefante branco. Infelizmente o tenebroso cenário que ora se apresenta parece estar longe do fim. As instituições relacionadas ao futebol paraense continuam insistindo em se omitir quanto ao estado degradante do nosso futebol. Apenas lhes interessa a atitude do vampiro, que suga a vítima até o sangue lhe fartar, quando surge uma oportunidade propícia.

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